O Natal e a Porta dos Fundos
Este Natal, assistimos à típica polémica religiosa: comediantes gozaram com Jesus Cristo e foram atacados. A fachada do prédio onde está a produtora do grupo brasileiro Porta dos Fundos levou com dois cocktails molotov, motivados pelo seu episódio especial de Natal.

Vamos lá a ver uma coisa. Eu compreendo perfeitamente a indignação das pessoas, principalmente as cristãs. Sim, porque a indignação de alguém que não acredita em Deus é só idiota. Há coisas que têm piada e são engraçadas por serem idiotas. Não acreditar em Deus e indignar-se quando se brinca com Deus, como se ouviu alguns iluminados ateus ou agnósticos, é só idiota, nem engraçado é. Se não se acredita, não se indigna.

É a mesma coisa de quando éramos miúdos e nos chateávamos com alguém: "Já não quero ser teu amigo!" Mas depois gostávamos de brincar com os brinquedos dele porque eram melhores. Não se é amigo para umas coisas, não se é para outras.

Eu não sei se há amigos meus a serem pinados pelas namoradas com um Strap-On. Não acredito nem deixo de acreditar, não faço ideia. Então se souber que há, fico indignado? Não. Porque me estou a cagar para isso. 

Agora, os cristãos indignarem-se, ainda compreendo. Mas não compreendo a constante incoerência na comunidade católica. Eu sou um fervoroso cristão (isto é mesmo verdade), ando sempre com um terço e acredito em Deus, que me ajuda e que está comigo. Mas prefiro revoltar-me com questões que realmente interessam à minha religião, como os casos de pedofilia passarem impunes, como a eterna exigência de dinheiro para ajudar padres a comprar os seus BM... ai a ajudar nas obras da paróquia (desculpem, às vezes engano-me) ou a exigirem balúrdios para celebrarem casamentos quando já têm o seu ordenado e as suas regalias. Isso sim é importante. Comediantes gozaram com Jesus? Vamos lá a ver se entendem de uma vez por todas: É COMÉDIA. É TUDO VISTO À LUZ DO HUMOR. Entendo que algumas pessoas possam não gostar, de acordo. Mas não a vejam então. Indignem-se com o que é realmente mau. 

Respondam-me, com toda a sinceridade, o que é que acham que é pior: uma criança ser abusada vezes e vezes sem conta por um padre, um representante da religião dos seus pais, que, às tantas, foram eles que impulsionaram a criança a ir à Igreja ou à catequese, passando a ficar com um trauma para toda a vida; ou um episódio de um grupo de comédia? Por alguma razão, na primeira hipótese gastei uma data de linhas e na segunda apenas oito palavras. Porque não é preciso dizer mais.

Isso é que é grave. Os filhos da puta dos padres que abusam sexualmente, que se aproveitam da sua situação eclesiástica e que continuam impunes a fazer o que querem (não estou a dizer que são todos, atenção. Estou a falar dos filhos da puta que o fazem).

Vá lá, comunidade cristã. Pensem bem no que concentram as vossas indignações. E, acima de tudo, se valem a pena em detrimento do que é realmente grave e constitui um problema para a religião.

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