As mortes dos famosos

“Só porque morreu um jogador de futebol conhecido, dá-se mais importância. O meu vizinho foi das melhores pessoas que existiu, mudou a vida de muita gente, salvou a de mais gente ainda e, quando morreu, não houve transmissões na televisão nem homenagem pelo Governo.” 
Estas palavras de uma mulher, numa paragem de autocarro, a respeito da morte de Reyes, jogador que ontem morreu de manhã, representam uma ambiguidade bastante interessante. 
A bem da verdade, sim, pessoas morrem todos os dias e há, de facto, uma atenção desmedida a alguém famoso que perde a vida.
No entanto, apesar disto parecer um pouco feio, é altamente natural. Sim, parece que esta questão remete para uma espécie de falta de respeito pelas outras pessoas que morrem, e que, por não serem conhecidas, não têm toda essa atenção, não é? Mas este ponto de vista, mesmo sendo justo pela sua simplicidade, acaba por não ser assim tão coerente. Claro que é verdade que há pessoas que fizeram coisas fantásticas em vida e, quando morrem, têm um funeral normal, sem mediatismos nem exposições. No entanto, compreendo essa maior atenção a quem é famoso. É uma pessoa que a esfera pública conhece, logo a repercussão é maior. É natural.
É como irmos a um restaurante, conhecido pelo bife da casa. Mas o de pimenta também é bom. Também há essa valorização. Também há gente que vai ali malhar o bife de pimenta. Simplesmente o outro é mais conhecido.
Ou seja, compreendo o ponto de vista da mulher mas não acho mal nisso, porque entendo a razão disso acontecer. E até valorizo estas pessoas, dado terem inventado uma nova rede social - a paragem de autocarro. É lá que falam, comentam e sabem da vida de toda a gente. E falam como se tivessem todo a moral para falarem. Moral. Porra, é mesmo uma rede social, até mural têm.

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