Cristiano Ronaldo e as gorjetas

Neste verão, Cristiano Ronaldo deu milhares de euros em gorjetas às pessoas que trabalhavam no complexo de luxo onde ficou instalado. Achei imensa piada às pessoas a dizerem, na internet e na televisão, frases como: “Ganha tanto, tem mais é que deixar gorja!”, “Já que não lhes paga com golos, tem mais é que pagar com gorjetas” ou, a minha preferida: “Nem que fosse mal servido, tinha mais é que deixar milhares em gorjetas.”

Vamos então ver estes pontos de vista. Para já, não é por ganhar bem que o homem deve distribuir dinheiro em barda. O imenso dinheiro que ele ganha sai-lhe do cú e trabalha, e bem, para o ter. Ele já pagou o que pagou para alugar a casa, onde já está incluído o custo do trabalho dessas pessoas. Não é por ganhar milhões que tem que dar milhares de gorjeta.

E a cena do “já que não lhes paga com golos.” Este argumento então é de uma solidez impressionante. O Ti Nando, do talho, pode ir de férias com a mulher, mesmo que seja pobre. Basta levar um porco e pagar a cada trabalhador com presunto e couratos. Dinheiro? Não, isso é na peida. Não é com dinheiro que ele trabalha, é com porcos e carneiros. Então é com isso que ele vai pagar. Uma coerência que, de facto, me esmaga.

“Nem que fosse mal servido.” Ah, já percebi. Quanto mais dinheiro um gajo tem, mais burro fica. Sim, porque sendo muito rico, um gajo tem que pagar, e aos milhares, mesmo que seja mal servido. A qualidade é na peida, também.

De acordo com esta gente, um gajo que não é rico: “Merda de hotel, ainda vão ter que me oferecer mais uma noite!”, mas se é rico: “Merda de hotel, tenho que deixar uma gorja de 3000 euros para cada um!” É uma contradição existencial do estilo: se um gajo é mau com as mulheres, tem que pinar com a melhor do concelho. Mas se for um garanhão e se safar muito bem, tem que pinar com a mais feia. Faz todo o sentido. Isso e couves no deserto. Então isso é que faz ainda mais.