As pessoas que dizem metade das asneiras

Tenho estado a observar e a ponderar sobre um comportamento específico: os gajos que só dizem metade das asneiras. Isto é gente que, ao dar com o dedo mindinho do pé na ponta da cama, com toda a força, em vez de dizer: "Foda-seeee!", diz: "Daseeee!" Ou quando chamam nomes a alguém, em vez de vociferarem: "Seu filho da puta!", chamam: "Da puta!" Isto é um total desrespeito pelos palavrões. Os palavrões merecem mais. Merecem ser ditos na sua totalidade.

Eu fico a pensar: porquê? Porra, se é para dizer palavrões, que seja até ao fim. Já que têm a conotação que têm, temos mais é que os dizer. E de forma sentida. Não há nada mais maricó que ficarmos a meio deles. Isso tira completamente o lado selvagem da coisa. É como cagar e o bajolo vir sem cheiro. A principal componente que confere o lado selvagem ao cagar é o cheiro. E se o nosso pequeno rebento castanho vem sem o seu cheiro característico... mau. Mal por mal, que cheire a alguma coisa. Nem que seja a rosas. O que me faz pensar que merda é que um gajo teria comido para o cagalhão vir a cheirar a rosas. Mas isso é outra questão.


Mas voltando aos palavrões. Os palavrões merecem ser ditos por inteiro. Será que as pessoas que dizem só metade da asneira pensam: "Espera lá... eu posso vir a ser desagradável com o que eu vou chamar àquele gajo... então talvez metade da asneira não tenha o mesmo efeito do que se dissesse a asneira toda..." Faz todo o sentido, de facto. Se um gajo chama "filho da puta" a alguém nota-se que está preocupado em poder vir a ser desagradável com essa pessoa. E então diz só metade para a coisa não ser tão chata. Faz bastante sentido. Tanto como eu gostar de beber rim de escorpião ao pequeno-almoço. E eu nem sei se os escorpiões têm rins. Devem ter, a minha namorada faz anos em Novembro, logo é escorpião, e tem rins. Isto faz tanto sentido como este diálogo, que até já estou a imaginar:


Um gajo é mandado parar pela polícia.

Polícia - O Sr. condutor passou um sinal vermelho e, como tal, vai ser autuado.
Condutor - Da puta!
P (já a tirar as algemas) - Sr. Condutor, está detido.
C - Não, Sr. agente! Atenção, eu só lhe chamei metade do palavrão! Tem metade do efeito, logo não pode ser subentendido na sua totalidade, logo a ofensa é apenas parcial.
P (pensando na veracidade do argumento) - Com efeito, Sr. condutor, tem alguma razão. A sua sorte foi não ter dito o resto. Pronto, passa. Mas cuidado com os sinais vermelhos.
C - Obrigado, Sr. Agente! 

Isto poderia, de facto, acontecer. Tenham juízo. 


É isso e dizer: "Dasse!" Epá, ao menos digam tudo. Já que vão dizer essa asneira, que tem um valor tão forte na nossa língua, ao menos que a digam toda. Um gajo está a meio de uma reunião de trabalho ou numa entrevista de emprego, quando sente que um bicho lhe picou debaixo da mesa: "Dasseeee!" Calma, não causou má impressão, não disse mesmo a asneira toda. Então, a reunião ou a entrevista continua. 

Eu despedia logo o meu funcionário que me dissesse isso numa reunião. "Dasse?!" Para já, se dissesse, em plena reunião, quando estamos com investidores: "Foda-seeee!", é de homem. É de quem tem dois rolos de carne no lugar dos tomates, é de quem não tem medo de nada. Este gajo podia ter 200 kg e passar em frente a uma tribo canibal da Suazilândia. Isto é de boss. Agora "dasse", é de panhonha, de quem não consegue ir em frente.



E isto sem dizer que é mais uma prova do nosso total desrespeito pelo "Foda-se", que merecia bem mais. Já sofre o suficiente com o "Fónix" e o "Foscasse", que não têm nem metade do seu talento e importância. Nem a beleza da sua fonia. Digam lá depressa e com raiva "Fónix!" e "Foscasse!".

"Foscasse!" Pronto, babei-me e mordi a língua. Não dá. Parem com esta merda.

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