Sérgio Conceição e a aversão à derrota


Depois de uma final tão dolorosa para o Sporting como a do ano passado, jogada apenas alguns dias após aquela invasão ao seu centro de treinos, o clube conseguiu ganhar a Taça de Portugal deste ano. E isso é que devia ser mais importante. Mas não, isso é na peida. Mais importante que o vencedor da prova, foi a atitude do treinador do Porto, em recusar falar a Frederico Varandas.

Mas até tem alguma lógica em se ter falado mais disso. A bem da verdade, e comprovado e aprovado pela ética jornalística, o divórcio vende mais que o casamento, a doença que a cura e a morte, essa então bem mais, que a própria vida. E, neste caso, o mau perder mais que a vitória.

Sérgio Conceição é um perfeito exemplo disso. Não sabe perder. E se soubesse, estaria bem mais perto dos treinadores de maior craveira nacional. E nem falo sequer das suas aptidões técnico-tácticas, que são óbvias. Falo mesmo da sua atitude, por vezes mais importante para o sucesso de uma equipa do que saber pôr um pombo a marcar golos como ponta-de-lança.

Do que falo é de um treinador que dá o cú e 25 tostões pelo Porto, que é claramente o seu clube (isto não dizendo que não se aplicou a 100% nos outros clubes que treinou mas é, de facto, notória a diferença de vivacidade com que vive as emoções enquanto treinador do Porto), tem todo o seu amor pelo clube bem à vista de qualquer um e, acima de tudo, tem uma enorme vontade de ganhar. Não sabe é estar. Não pode festejar golos a ir provocar os adversários aos seus bancos; não pode deixar de reconhecer a superioridade dos adversários quando lhe são, efectivamente, superiores; e não pode deixar os adversários de mãos estendidas só porque lhe ganharam. E isto aconteceu mais do que uma vez, não foi só agora com o presidente do Sporting.

Assim como critiquei, em outros tempos, Vale e Azevedo, por ter ignorado o cumprimento dos outros candidatos à presidência do Benfica num debate televisivo, só porque eram rivais directos, e a falta de educação de Sousa Cintra para com o presidente do Bolonha, acusando-o de ter comprado o árbitro numa eliminatória longínqua da extinta Taça UEFA, só porque o Sporting não estava a conseguir marcar, também critico Sérgio Conceição por não aceder a cumprimentar os adversários. 

Eu não estou a dizer que ele tem de ir, no fim do jogo, a correr e a saltar para os adversários, beijando-os e babando-os de cordialidade. Mas quando lhe passam à frente e lhe estendem a mão, como João Félix fez no fim do jogo do Dragão, tem que o fazer. A não ser que seja mesmo uma pessoa intragável e no maior expoente da atrasadice mental, que não foi o caso. O rapaz até já passou férias em casa do Sérgio Conceição porque é muito amigo do seu filho. Às tantas arrotava à mesa ou tirava macacos do nariz e espetava-os debaixo do sofá da sala. Mas mesmo assim, Conceição deve-lhe retribuir a mão.

Mas, para avaliarmos as situações, temos que escutar o veredicto do acusado, que pode ter uma justificação. Sérgio Conceição não cumprimentou Frederico Varandas porque "não era hipócrita" e não se esqueceu que o Sporting pediu que este fosse castigado, pelo que se passou no jogo da semana passada. Isto também não justifica que o técnico portista tenha ignorado o presidente do Sporting. Conceição tem que começar a ter a noção dos seus actos e, se pôs a mão na cara de Renan Ribeiro algo que, de acordo com as normas do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, dá direito a castigo, como aconteceu com tantos outros casos, tem que ter a noção de que poderá ser castigado e que os adversários têm toda a legitimidade para solicitar essa penalização. 

A verdade é que o treinador do Porto não está preparado para essa realidade. Pensa que pode agir como quer e defende-se com a "paixão e emoção pelo clube". As coisas não são assim. Eu não vou começar agora a violar mulheres em barda só porque gosto de pipi. 

Mas deixo um apelo ao treinador do Porto: que se controle um pouco mais e aceite que os outros possam ser melhores. Mas mais do que isso: que aceite perder, que é um dos desfechos possíveis no futebol. Ele anda lá e pode ganhar, empatar ou perder. Deve estar preparado para tudo. Tem todo o direito a ficar lixado mas que aceite perder. 

Isso é só o que lhe falta para ser um treinador de topo. É que eu preciso disso também para saber como fazer o amor sem ter que violar ninguém. Quando Conceição compreender que também pode perder, eu saberei pinar sem ter que ser à força. Por isso, eu preciso dele.

Eu acredito em ti, Conceição. Como acredito que posso pinar de forma consentida. Ah e já agora, se possível, com uma mulher. O treinador do Porto joga com pessoas da equipa contrária, não com as da mesma equipa. Eu pedia isso também. Nada contra quem jogue na mesma equipa mas eu gosto de jogar com a equipa adversária. Eu acredito em ti, Conceição. 

Comments

Popular posts from this blog